30/01/2012

Atravessando a Cordilheira dos Andes de carro


A Cordilheira dos Andes é a maior cadeia montanhosa do mundo em extensão, atravessando seis países, num total de aproximadamente 8.000 km. O ponto mais alto da Cordilheira é o Pico Aconcágua (na fronteira da Argentina com o Chile), a 6.962 metros de altitude, o que o torna o ponto mais alto das Américas e o ponto mais alto do Mundo fora da Ásia!

Cruzar a Cordilheira dos Andes de carro na região do Aconcágua é uma experiência incrível, mas menos radical do que muitos imaginam. O caminho entre Mendoza (ARG) e Santiago (Chile) é todo asfaltado e a ligação entre os países é feita pelo Túnel Internacional Cristo Redentor, embora a fronteira se chame "Paso Los Libertadores".
O caminho se dá pela RN 7 do lado Argentino e Ruta 60, do lado chileno, neste que é o principal acesso rodoviário do Mercosul, ligando o Pacífico a Buenos Aires e ao sul do Brasil.
A boa estrutura da rodovia, no entanto, não tira o encanto e o ar aventureiro de cruzar de carro os 350 km que separam as duas cidades.

Saindo de Mendoza, a 600 metros de altitude (mais baixa que Curitiba, que está a 900m), sentido Santiago (750m), a primeira atração aparece ainda na região metropolitana: incontáveis vinhedos à beira da estrada lembram a todo momento que estamos em uma das principais regiões produtoras de vinhos da América do Sul. A poucos minutos da RN 7 estão as bodegas da Chandon, Norton, Terrazzas, Velazquez de Baquedano, entre outras.

A subida começa leve e com curvas não muito acentuadas no trecho de Pré-Cordilheira, sempre acompanhada pelo Rio Mendoza e pela antiga estrada de ferro transandina, abandonada no século passado.
No caminho, muitos túneis e montanhas multicoloridas, onde a cada curva surge um cenário diferente.

Chegando a 2.000 metros, um verdadeiro oásis: Uspallata. Uma cidadezinha situada em uma vale, que aproveitando a água de degelo oferece muito verde em meio a montanhas de pedras e solo seco.
Uspallata reúne vários hotéis, pousadas e restaurantes, onde se encontram turistas, principalmente mochileiros, do mundo todo, em busca de esportes radicais e turismo de aventura. Muitas agências locais oferecem rafting, caminhadas, cavalgadas, aluguel de bicicletas e inúmeros passeios pela região.

Alguns quilômetros à frente, encontramos a Estação de Esqui de Penitentes. Não chega a ser uma cidade, mas hotéis e restaurantes se espalham pelos dois lados da rodovia, espremidos entre os paredões da cordilheira.

Estação Penitentes, vista do alto do cerro, com acesso via teleférico

Uma das atrações de Penitentes é o teleférico, que fica aberto o ano todo. Mesmo no verão, não deixe de subir com o balanço do vento e curtir o visual lá de cima; e memo nesta época, leve agasalho, pois o vento é gelado.


Em Penitentes você encontra um dos melhores lugares para uma boa refeição: Hostel Refúgio Cerro Aconcágua.

Hostel Refugio Cerro Aconcágua, em Penitentes

Seguindo em frente, você encontra o "Cementerio del Andinista", onde estão enterrados alguns montanhistas que sucumbiram tentando chegar ao topo das Américas.

O cemitério fica próximo à rodovia, mas uma simples placa passa despercebida da maioria dos viajantes; apesar de pouco conhecido, este ponto é imperdível: como qualquer cemitério, é um passeio um pouco mórbido, mas extremamente interessante. O cemitério é totalmente improvisado, próximo a uma antiga ponte da estrada de ferro desativada, o que confere um clima ainda mais sombrio.

Ponte da antiga estrada de ferro em frente ao Cementerio del Andinista

Saindo da RN 7 você entra em uma estradinha de terra e pode estacionar ao lado do portão. Ali, o silêncio absoluto é quebrado pelo vento; fortes rajadas costumam balançar o portão e objetos do local. Sim, existem muitos objetos ali; o costume é deixar ao lado da lápide (algumas bem improvisadas), peças de roupas e outros objetos dos montanhistas mortos. Botas, lenços e pequenos textos são as lembranças que ficam, aos pés do Aconcágua.


É claro que a esta altura do roteiro o clima gira em torno do "Cerro Aconcágua"; imperdoável passar por esta região e não entrar no "Parque Provincial Aconcágua".

Entrada do Parque Provincial Aconcágua

Na entrada principal você estaciona seu carro e compra um ingresso na casa dos "guarda-parques"; o ingresso para caminhada, ida e volta no mesmo dia, (trekking diário) custa 25 pesos.

Trilha dentro do Parque Aconcágua

Se você pretende acampar em um dos campos-base, o ingresso é de 85 pesos, para até 3 dias (trekking corto).O trekking largo (7 dias) custa 160 pesos. Agora, se vai se aventurar e tentar chegar ao cume, o ingresso custa 720 pesos e é liberado mediante prévio cadastro. Informe-se aqui, no site oficial do parque.

Depois disso, você dirige aproximadamente 1km dentro do parque até outro estacionamento, onde iniciam as trilhas. Saindo do carro, a paisagem é impressionante, assim como o vento.

A temporada para escaladas vai de novembro a março. Durante a temporada é comum ver grupos de andinistas rumando para a escalada. Fora deste período o clima inóspito impede qualquer aproximação da "Sentinela de Pedra".

Andinistas seguindo ao acampamento Confluência, na base do Aconcágua

Não se esqueça: caminhe devagar, pois estamos a mais de 3.000 metros e os efeitos da altitude já são sentidos. E caminhe devagar para curtir o cenário, passando pelo mirante da face Sul, onde são tiradas as clássicas fotos com o Aconcágua ao fundo, chegando até a Laguna de Horcones.


Reserve pelo menos uma hora e meia para este tour inesquecível. Parar e ficar olhando para aquela montanha já vale a viagem.


Mas os atrativos da Cordilheira não acabam aí. Seguindo no sentido Chile, você encontrará a Puente del Inca. Trata-se de uma ponte natural de pedra, utilizada como caminho dos Incas pela região.



Ruínas de um antigo hotel destruído por uma avalanche fazem parte do visual. A Puente del Inca se tornou um movimentado ponto turístico, com uma feirinha permanente onde são vendidos artesanatos locais, casacos de alpaca e camisetas típicas para turistas. O local ainda conta com lanchonetes e banheiros. Enfim, parada obrigatória.

Mais alguns quilômetros adiante, quase chegando ao limite de fronteira com o Chile, encontra-se o povoado de Las Cuevas. Um grande portal na margem esquerda da rodovia não te deixa passar direto.

Em Las Cuevas está o ponto alto deste roteiro pela Cordilheira, pelo menos em termos de altitude. Las Cuevas fica a pouco mais de 3.000 metros e era por ali que passava a antiga estrada para o Chile, antes de ser construído o túnel. Este era um dos piores trechos da travessia, onde sobe-se até 4.000 metros com curvas muito fechadas e grandes precipícios. A estrada foi desativada, mas continua transitável até o "Cerro Cristo Redentor" de outubro a março, dependendo do clima, conforme liberação das autoridades locais.

Entrar em Las Cuevas e subir até o Cerro é uma experiência incrível. A estrada é de rípio, sem qualquer tipo de proteção e a sinalização é precária. Lembre-se: é uma estrada desativada; o escritório turístico de Uspallata alerta: está transitável, "pero por su cuenta".

Alguma vans costumam levar turistas para o Cerro, pois este é um dos pontos mais interessantes da Cordilheira. Subindo por aquela estrada íngreme, com muitas pedras e curvas em ferradura, você certamente vai se perguntar: como eles viajavam décadas atrás, com carros "precários", durante todo o ano? Isso sim era aventura!


A rápida subida de aproximadamente 1.000 metros em menos de meia-hora já é notada ao parar o carro lá em cima: o vento balança os carros e assobia muito forte.
No alto ficam as bandeiras da Argentina e Chile, um marco que celebra a amizade dos dois países e, é claro, o monumento do Cristo Redentor. Além disso, existe uma Base Refúgio do Exército Argentino, já que se trata de uma zona de fronteira internacional.

O refúgio tem um banheiro simples; basta deixar uma moeda para colaborar com o soldado de plantão. Quando passamos, era Alejandro que estava, durante 15 dias, morando no local. Ao lado da lareira, nos informou que a temperatura externa estava em 3 graus! Nos disse, ainda, que à noite o vento é bem mais forte e a temperatura chega próximo dos 10 negativos! Isso em janeiro! Desejei "suerte" ao Alejandro e corri para o carro.

As fotos do local não ficaram boas: o frio congelava a mão e o vento tentava jogar a câmera. O resultado vocês comprovam nas imagens!



O fato é que o visual lá de cima compensa qualquer esforço! Impossível descrever com palavras.
A descida é sensacional, com vistas maravilhosas do picos nevados em nossa volta, em pleno verão.

Voltando a Las Cuevas, duas opções: atravessar para o Chile ou voltar para Mendoza. Deixamos a travessia da fronteria para o dia seguinte e retornamos para Mendoza curtindo mais uma vez o cenário dos Andes.
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Dicas:

- Reserve um dia para fazer o passeio de carro de Mendoza até a fronteira e voltar; para cruzar até Santiago é preciso fazer os trâmites, que podem demorar até 3 horas. Reservando um dia para os passeios, você não se cansa, nem se estressa com a burocracia.
- Sempre comece este trajeto com tanque cheio; existem poucos postos no caminho e costumam ter filas para abastecer.
- Qualquer carro pode fazer este trajeto; para subir o Cerro Cristo Redentor, entretanto, preferencialmente caminhonete; mas, vimos vários carros baixos (como Gol) subindo, mas há o risco de pedras acertarem a parte debaixo do carro e causar algum dano. Carros muito baixos ou rebaixados não devem subir. Vimos um "Passat" argentino desistindo. Carros 1.0 também sofrem muito.
- Não esqueça de levar agasalhos, mesmo no verão. Em janeiro, em Mendoza e Santiago a temperatura costuma ficar acima dos 30 graus, mas nos pontos mais altos do caminho chega a 03 graus!
- Não são muitas opções para boas refeições, mas não pare na primeira que aparecer; recomendamos o Hostel Refúgio Aconcágua, em Penitentes. Ótimos pratos, num lugar agradável, com ótimo atendimento e limpeza. O preço é compatível com a região e a vista para os picos nevados valem cada centavo de peso gasto.

17 comentários:

  1. Parabens pelo Blog e pelas fotos, ficaram otimas! Ainda nao conheco a neve e pretendo conhecer assim, de carro, na cordilheira. Valeu plas dicas! Grande abraço.

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  2. Parabéns pelo blog, definitivamente me encorajou mais para planejar esta viagem que há tantos anos eu sonho em realizar. "Gracias!"

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    1. Obrigado Henrique! Vá em frente com seu sonho e boa viagem! Abraços.

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  3. Boa Tarde: Lendo o blog de vocês, procurei dicas sobre a travessia da Argentina para o Chile pela estrada velha. Explico, já fizemos a rota tradicional passando pelo túnel, mas agora queremos atravessar pela antiga estrada que passa pelo Cristo Redentor e desce em direção ao Chile. Alguma dica?
    Parabéns pelas postagens do blog. Também temos um, se tiverem interesse, acessem www.viagemfamilia.com

    Grande abraço e boas viagens!

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    1. Olá! Obrigado pela visita e comentário! A estrada antiga é transitável apenas no verão e mesmo assim você deve se informar em Las Cuevas se está habilitada. Chuvas fortes e ventos fecham a estrada em qualquer época do ano. Até o ponto alto (cerro Cristo Redentor) o caminho é bom, mas a descida para o Chile praticamente não é mais usada; informe-se antes! Parabéns pelo Blog! Abraços e vamos nos falando! ;)

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  4. Oi Ney! Muito bom o relato, sério :) Venho lendo muito sobre isso, e vamos viajar em Janeiro, de carro, em 6 pessoas, para a Argentina... Tinhamos, a principio, 21 dias, mas no fim deu zebra e tivemos que passar pra 14 só (no máx 17).
    Por causa do tempo tiramos Bariloche, pra poder aprovaitar mais Mendoza e região...
    O planejado antes, era passar 3 dias em Mendoza, 1º dia para conhecer a cidade, o 2º para ir à Uspallata pelas Curvas de Villavicencio, e voltar pela RN7, passando por Potrerillos, e o 3º dia para o Parque do Aconcágua.

    Talvez passemos para 5 ou 6 dias, para conhecer mais além do básico, mas aí está o problema. Tenho conhecimento dos povoados e cidades ali por perto: Uspallata, Potrerillos e Puente del Inca; Mas não tenho nem ideia de como conciliar estes lugares nesses 5 ou 6 dias... (Até porque quase tudo o que li por aqui é sobre conhecer os locais em tours, e como estaremos de carro, não encontrei muita informação :P), não sei se fazemos o trajeto do Alta Montaña, por conta, em um dia e conhecemos tudo, ou se fazemos as Curvas de manhã e conhemos Uspallata e Potrerillos a tarde, ou esses lugares merecem mais tempo? Ou talvez dormimos em Uspallata no dia das Curvas, pra no outro dia conhecer melhor a cidade e também Potrerillos...

    Penso em dormir em Uspallata antes de fazer o caminho do Alta Montaña, pra melhorara a aclimatação à altitude...

    E também, a partir de Uspallata num outro dia, poderiamos sair pro Aconcágua, e passar por Puente del Inca (?) (quanto tempo será? Só pra visitar, algumas horas, correto? Mas provavelmente faremos trekking pela região, e como há alguns cerros perto de PDI, vale a pena passar mais tempo lá? Um dia só pra lá, talvez?)

    E no Paque, propriamente dito, por conta, sem tours, ou com tours para as trilhas, vale passar um dia todo? Li sobre cavalgadas, trekkings e tal, é de boa fazer isso, e ter um dia só pra tal?
    Talvez valha a pena pegar guia pra alguns trekkings? Como estaremos em 6, é bom será?

    Desculpa o textão hehe

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  5. Bom dia! Na próxima sexta-feira (27/12), eu e minha esposa sairemos de Criciúma-SC, onde passamos o Natal nos meus sogros, e vamos para o seguinte destino: Córdoba, Mendoza, Santiago do Chile, Buenos Aires ( pegaremos o buck bus para Montevideo com o carro na balsa), após Montevideo, Punta del Este e finalmente Pelotas/RS, Praia do Laranjal, onde fica a nossa casa.

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  6. Ney, se vc nao se importar vamos pegando algumas dicas com vc, ok? Pois pesquisamos varios relatos e o seu e realmente fantástico, o itinerário e tudo mais, so para o seu conhecimento viajaremos num Golf 1,6 bem equipado, levaremos estrutura de barraca, pois pretendemos acampar em alguns locais...quais as principais dicas que vc pode me passar? Obrigado

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  7. Ola, vou fazer a travessia mendoza para Santiago conforme a rota do google maps terei algum desconforto referente a altitude tenho receio por causa da asma e da hipertensão , alguém pode me responder?

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  8. Olá Amigo, vou no final de dezembro deste ano com carro próprio, você viu neve nos picos das montanhas ou será difícil de encontrar?
    Abraço
    Cesar

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  9. Parabéns pelo relato, foi muito útil para mim, estou indo para essa região em dezembro com boas dicas.

    Joaquim

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  10. Parabéns pelo relato, foi muito útil para mim, estou indo para essa região em dezembro com boas dicas.

    Joaquim

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  11. Parabéns...esta viajem é maravilhosa.
    Eu, minha esposa, um filho de dezesseis e filha de nove anos saímos de Goiânia e fomos a Santiago em julho do ano passado por este caminho. Foram 21 dias e 9.500 km entre ida e volta, passando por várias cidades e paisagens fantásticas. Nós recomendamos. É uma experiência única.

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  12. Olá, sabes dizer se há alguma época NÃO recomendada para fazer a travessia de carro? Grato

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  13. Gostaria de sair de sc para passar na cordilheira dos andes mais não tenho muitas informações gostaria de algumas dicas de quem já viajou pra lá e o que e necessário para fazer essa viagem de carro pela 1

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  14. Amei o blog e as fotos...parabens!!! EStamos pensando em fazer o trajeto de carro, de mendoza a santiago, e como nosso voo sai de santiago teremos que alugar o carro em mendoza e deixa em santiago, o que está sendo um problema. Então, pensando em deixá=lo ainda na argentina e atravessar a fronteira de onibus ou outro meio. Mas parece tudo tão sem estrutura ... vc acha que esta solução é viável?

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